“E disse Jesus: "Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens". Mateus 4:19
Estou temeroso, mas preciso revelar algo: sou mineiro, nascido em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Provavelmente, você que é ou não é de Minas, já está com aquele sorrisinho no canto da boca e aquele pensamento de mais um mineiro falando de praia. Deve estar imaginando um dia nublado ou mesmo chuvoso e o mineirinho lá em pé na areia ou debaixo da sombrinha curtindo o marão. Uai! O que fazer? A gente gosta de trem bão! Ninguém entende esta nossa fixação pelo mar, talvez por não termos a graça de possuir em nosso território esta preciosidade criada por Deus.
Tudo bem, vamos por hora aceitar as coisas como são, sabendo que, para os momentos difíceis, sempre tem Guarapari. E por falar em Guarapari, pra quem não conhece, excluindo os mineiros é claro, é uma cidade do litoral do estado do Espírito Santo, foi onde passei o réveillon, antes da pandemia, acompanhado de minha família e da família de minha irmã, na Praia do Morro, com uma vista espetacular. Naqueles dias tive algum tempo para observar as pessoas e contemplar a natureza, foram dias excelentes. Relembrando aqueles momentos, gostaria de compartilhar algo.
Em Guarapari, acontece de tudo, de tudo mesmo e vou explicar: A cidade tem aproximadamente 120 mil habitantes e no verão recebe mais de 1 milhão de turistas. É verdade e é também um caos. Estima-se que na virada de ano cerca de 1,3 milhão de pessoas estavam em Guarapari. Não tem estrutura que comporte. Todavia, embora algumas dificuldades, muito me impressionou a tranquilidade e passividade com que as pessoas conviveram naqueles dias. O ser humano é de fato alguém especial e faz toda a diferença, embora em meio a um aglomerado, as pessoas se mantinham solidárias.
Desde as primeiras horas do dia, até mesmo antes do nascer do sol, a praia começava a ser tomada por sombrinhas multicoloridas e em pouco tempo, de cima, de onde eu observava, não se podia ver mais a areia e, assim, permanecia até ao anoitecer. Os mais persistentes ainda adentravam a noite. Alguns se aventuravam no mar à dentro: motos aquáticas, barcos, lanchas, escunas, boias, pranchas, bananas flutuantes, caiaques e uma infinidade de outras possibilidades de se vencer a força e grandeza do mar. Gosto de praia ampla, extensa, de mar aberto.
Sempre que vou ao litoral, as pessoas me convidam para adentrar no mar, enfrentar o poder das águas. Percebo que o barato está em dominar este elemento. A nossa imaginação se deslumbra ao ver retratado nas telas os homens que se aventuraram no mar e puderam sobreviver para contar a história. A grande atração está lá no desconhecido, no desafiador. Investimos tempo e recursos para desfrutar do privilégio, poucos o tem, de surfar sobre as ondas. Dominar o mar é sinônimo de superação, de grandeza. Quem está lá conquistou um lugar longe da multidão e pode ver os milhares que nem ousam tentar.
Em seu primeiro contato com aqueles que seriam seus discípulos, Jesus, tem uma atitude reversa, embora eles fossem peritos e habilidosos no domínio dos mares, Ele os chama a abandonarem seus barcos e virem para a praia, lugar onde está a multidão. Esta característica está sempre presente em Jesus, se misturar. Ele é encontrado em meio ao povo, sim, junto àqueles que estão na areia, a beira-mar. Por vezes queremos nos aproximar de Deus e pensamos que para isso precisamos nos afastar dos homens. Nos tornamos exclusivistas e até nos julgamos superiores.
A proposta do evangelho nunca foi de se isolar, mas, ao contrário, é de se envolver. A atitude do próprio Deus de deixar a sua glória celestial e se encarnar como homem é a prova mais evidente de seu compromisso conosco. Ele de fato se envolveu. Ele se importa com você e está disposto a se relacionar intimamente. Seus medos, seus temores, suas limitações, não são impedimentos para que Ele lhe conduza na travessia deste mar bravio. Se você está na praia este é o lugar onde Ele está, perto de você. É aí, onde tudo acontece, na sua vida, que Ele está presente e quer se manifestar.
Olhe para o lado, veja se não há alguém que Deus colocou aí para se relacionar com você, para te ajudar ou ser ajudado. Não se isole, por mais que pareça atrativo estar longe das pessoas e se sinta seguro à distância, lembre-se que é na solidão do mar que estão os verdadeiros perigos. Jesus demonstrou a seus discípulos que tem total domínio dos mares, fez aparecer os peixes, acalmou a tormenta, andou sobre as águas, entretanto, Ele não nos chamou para sermos poderosos, este atributo Lhe pertence, Ele nos chamou para sermos sal da terra, o mesmo sal que é encontrado misturado nas areias da praia.
M.Ce.Diniz
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