“E os levitas carregaram a arca de Deus apoiando as varas da arca sobre os ombros, conforme Moisés tinha ordenado, de acordo com a palavra do Senhor”. 1 Crônicas 15:15
Fico sempre apreensivo quando ouço qualquer crítica ou comentário sobre o comportamento da Igreja de Cristo na atualidade. Não quero fazer juízo de valor ou tampouco desmerecer qualquer análise criteriosa que aponte de fato as correções necessárias para que alcancemos uma melhoria contínua na busca da excelência ou um ajuste no rumo das coisas, a considerar que qualquer empreendimento que envolva o ser humano, pela nossa própria falibilidade, intrínseca em nossa natureza, é suscetível de incorreções e descompassos, exigindo de quem está comprometido constante reexame.
Certamente, Jesus não nos comissionou à pregação das boas novas do evangelho baseado em nossa capacidade de discernir o certo e errado, aliás, desde a queda dos nossos primeiros pais, é notória a grande dificuldade que temos neste quesito. Todavia, a igreja se mobiliza e articula para alcançar públicos e notoriedade inimagináveis, atraindo a atenção do mundo para refletir e se posicionar acerca dos assuntos de fé. Se esforça por falar a linguagem do povo, compreensível, para construir uma relação de proximidade pessoal, numa visão diferente dos palácios de conhecimento eclesiais de um tempo não distante.
Este mover se identifica com o próprio Jesus, que sempre foi controverso quanto a postura religiosa de seu tempo, em que aqueles que foram chamados para servir, se mostravam afastados do povo, ilhados, como que privilegiados e superiores, pela condição da função exercida. Este isolamento está presente em toda a história da igreja, é inerente à vaidade humana e não é diferente nos dias atuais. Líderes que a princípio ou outrora iniciaram a sua caminhada de fato comprometidos com a pregação e prática do evangelho em sua essência, ao se verem num estado de comando, desviam-se para assegurar o poder obtido.
Somos parte de um todo. O ambiente nos desafia e envolve, é inevitável que as transformações do mundo ao nosso redor influencie as nossas decisões. Sem dúvida, não é somente dos líderes a culpa da escolha de se elevarem e buscarem mistificar, pois, vivenciamos uma geração moldada ao fantasioso e ilusório, produto do bombardeio hollywoodiano e da ficção que sobrepõe a realidade. Migramos de uma geração patrimonialista, baseada no concreto, real, para uma geração experiencialista, baseada no virtual e efêmero. É preciso apresentar algo novo, infinitamente, para ser atrativo.
O racional dá lugar ao imaginativo e o que vale é a “experienciação”. A criatividade humana parece não ter fim e nos impulsiona a querer cada vez mais e diferente. Não conseguimos enxergar o avanço tecnológico como algo externo ao ser humano e imaginamos que evoluímos em igual razão, nos tornando uma espécie melhor. A gênese não se alterou. Nossa estrutura física e mental é a mesma desde o princípio conhecido, permanecem nossas necessidades e fragilidades. Em meio a este contexto, embalados pela vaidade e pela pressão social do novo, do extraordinário, muitos se deixam envolver pelas armadilhas sutis do inimigo da igreja.
A este universo de efeitos especiais, soma-se os efeitos colaterais da revelação bíblica de falsos profetas, pastores e mestres, além da já mencionada ação do inimigo sagaz, pronto! E agora? Estou inserido em tudo isso. Como devo agir ou reagir? Esta reflexão, tendo por base a premissa apresentada, não pretende considerar em qual posição ou extrato você está na composição do corpo da Igreja de Cristo, não importa. A pregação do evangelho é simples e direta: arrependa-se, ou seja, converta-se, mude sua mente, seu modo de pensar. Faça você o autoexame. Se toque! Tem o jeito de Deus, para fazer as coisas de Deus.
Davi era um homem segundo o coração de Deus. Você pode criticá-lo por muitas coisas e com certeza facilmente as achará estampadas nas escrituras sagradas, mas há de reconhecer que ele tinha um coração quebrantado. Errou, sim, várias vezes, mas conservou sua humildade diante de Deus. A Arca da aliança representava a presença de Deus no meio da congregação e era importante para Davi, como rei, e para o povo resgatar a arca que estava em território inimigo. A presença de Deus era tão real na arca que os filisteus puderam vivenciar a manifestação da Sua glória, evidentemente, desastrosa para eles.
O relato que se dá em 1 Crônicas 13, é que Davi reuniu o povo, manifestou sua intenção em trazer a arca, buscou a concordância do povo e ainda condicionou a decisão à vontade de Deus. Tudo perfeito! O povo anuiu à proposta de Davi e com certeza, Deus seria o mais interessado em que a arca retornasse para Jerusalém. Daí pra frente só festa, celebração total: música, dança, alegria. Que culto! Tudo ia bem, até que, no lugar mais improvável, na hora que ninguém poderia esperar ou prever, as coisas saíram do controle e o que era pra ser benção se tornou em maldição.
Quem milita na obra de Deus sabe muito bem que não é fácil. Trabalhar com pessoas já é muito complicado, mas trabalhar na conversão de pessoas, que implica em mudança de mente e consequente mudança de hábitos, comportamentos e caráter, é mesmo desafiador. Convencer as pessoas que existe um jeito certo de se fazer as coisas é algo que exige muita aplicação, como um pai que precisa ensinar o filho o melhor caminho. Provavelmente, o caminho que eles percorreram era acidentado, imagino que não haviam estradas em boas condições, mas a caravana não parava, entretanto, numa eira, lugar plano, sem obstáculos, os bois caíram.
Morte, tristeza, contrariedade, medo e paralisia. O que havia de errado? Um homem de Deus, o povo de Deus, a arca de Deus, a melhor das intenções. O preço da inobservância pode ser caro e quando o fracasso é nosso professor as lições são duras. Deus tinha que forjar em Davi, o novo rei, líder de seu povo, um caráter de obediência e consequente dependência. O status de rei não deveria contaminar o coração de Davi e sua humildade foi provada, pois, o que os aguardava no futuro, o que se seguiu, foi um batalha contra os filisteus, inimigo, cuja vitória veio pela submissão e obediência restrita à estratégia definida por Deus.
“Nós não o tínhamos consultado sobre como proceder” - Crônicas 15:14 - Daquela tragédia e da experiência de vitória na batalha contra o inimigo, veio o entendimento que há um jeito certo para se lidar com tudo aquilo que representa Deus. Davi se humilha para reconhecer que somente os levitas poderiam conduzir a arca. Apesar de ser o líder, não era ungido para aquele fim. O povo de Israel conheceu, foi liberto e presenciou os grandes feitos de Deus no Egito, mas morreu no deserto por não conseguir mudar sua mentalidade e se tornar dependente de Deus. A história por vezes se repete conosco. Não julgue, só faça do jeito certo.
M.Ce.Diniz
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