“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.” 1 Coríntios 13: 11
Quando comecei a escrever este texto, coloquei o título de “tá faltando amor na minha vida”, mas foi só começar a pensar sobre o tema e uma rápida conversa com minha filha, pronto, meus pensamentos se voltaram para uma percepção totalmente diferente. Dentre os cinco filhos que temos, somente a caçula mora com a gente, “ainda”, é o que ela diz (sabe de nada, inocente) e é ela que nos lapida. Já são vinte e dois anos de casamento e ainda tentamos nos ajustar. Um mineiro colérico e melancólico e uma maranhense, nordestina “arretada”, sanguínea o tempo todo e fleumática quando sobra tempo.
Nossos temperamentos são um excelente combustível para uma boa briga. O colérico precisa ter sempre razão em tudo e argumentos nunca faltam, mas uma sanguínea tem opinião própria e está disposta a "sangrar" quem tenta tirar sua razão. O resultado é um melancólico ressentido e uma fleumática apática. Minha filha me disse: “pai quando eu era criança achava que você e a minha mãe iam se separar a cada discussão. Parecia que vocês nunca chegariam a um acordo em nada. Daí a pouco, estava tudo bem de novo… acho que preciso de terapia!”. Tadinha das crianças, nada sabem sobre ser adulto.
Quando não consigo convencer ou sou ignorado do meu plano, em ambos, quase sempre é o que acontece, eu fico furioso e falo pelos cotovelos, é chato até pra eu ouvir, mas tem quem aguente… uma fleumática resiliente, forjada no calor das batalhas. Como diz seu neto mais velho: “minha vó é invencível”. Minha esposa tem um apelido carinhoso de “Feh”, abreviação de fenômena, devido a ser comparada a um fenômeno da natureza, tipo um ciclone, por onde passa é um arraso, não fica pedra sobre pedra, é muito movimento, intensidade emocional. E eu ali, tentando amenizar os danos e trazer o equilíbrio natural.
Qual é o ingrediente? O que faz pessoas tão diferentes e de origens tão diversas se unirem e permanecerem juntas para lutar pela construção do sonho de uma família feliz e realizada? É sobre este elemento que eu pretendo escrever hoje, algo não visível, inexplicável, que torna tudo possível. Aquilo que é a essência do próprio Deus, o qual condensa toda a sua vontade para seus filhos, tanto relacionado a Ele mesmo, quanto na relação de uns para com os outros. Nele podemos existir, vencer e nos aperfeiçoar para alcançarmos a plenitude de Cristo, que por causa do AMOR se entregou por nós.
O amor jovem é vibrante e intenso, carregado de desejos e promessas. Quando ouço um jovem falar de amor é sempre algo mais para se trocar, dar e receber, e na maioria das vezes se está mais aberto a receber do que a oferecer amor. É a antiga estória do sapo que, com um beijo, vira príncipe e ambos são felizes para sempre. O amor parece mais algo mágico que transforma aquilo que aparentemente é um defeito em alguma coisa extraordinária. Na infância recebemos amor incondicional ou, talvez, somos privados desse amor, assim, na juventude não conseguimos entender o amor como doação, como escolha.
Aprendemos a valorizar o ganho, aquilo que é para nosso benefício, e, como vivemos em um mundo materialista, somos estimulados a buscar o que é aparente e visível, que possa externar nossas conquistas e nos promover diante dos outros. É cada vez mais comum ver famílias que, após a morte dos genitores, passam a se digladiarem na disputa de patrimônio e bens, sem, contudo, valorizarem o legado de amor deixado pelos pais. Ainda que obtenham suas fortunas, observamos, com o passar dos dias, a dissolução dos laços familiares, levando a família à destruição, deixando um legado de desesperança aos filhos.
Em O Último Discurso do Grande Ditador, Charles Chaplin, diz: “A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”
O amor é algo intangível e abstrato, todavia, pode ser experimentado, sentido e percebido na prática. Só se pode amar amando e se permitindo ser amado. Afeição e doçura são duas palavras que bem descrevem o amor. Um sentimento doce que supre nossas necessidades mais íntimas, nos liga ao outro e nos faz pertencer. Os dias têm sido difíceis, pois, estamos nos afastando das pessoas, dos relacionamentos. Nos tornamos seres individualistas, com um alto grau de exigência para que alguém se aproxime de nós, buscamos a perfeição no outro e julgamos não ter a perfeição que queremos entregar.
O apóstolo Paulo, em sua carta endereçada aos Coríntios, no capítulo treze, nos oferece uma síntese do amor maduro, fruto de uma escolha consciente de que amar é doação. O amor é fonte de cura e de libertação da alma das prisões do abandono, do medo, da incerteza, do sofrimento. Se eu desviar meu olhar do mundo ao meu redor, das circunstâncias que me cercam, que na verdade são o grande cárcere que aprisiona a minha alma, e o colocar nas pessoas que Deus permitiu em minha vida para que eu pudesse receber Seu amor, percebo quanto amor tenho na minha vida e escolho amar também.
M.Ce.Diniz
“Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais”. João 8: 11
A modernidade com toda sua tecnologia trouxe algo que ainda não havia sido experimentado pela humanidade: o processo de automatização. A cada avanço, os processos produtivos e as rotinas cotidianas são realizadas sem um esforço maior, principalmente, que exija a intervenção humana. Tudo programável, automático. A considerar a comodidade que isto traz, não é de se admirar a aceitação e a incorporação destas facilidades em nossas vidas: “a lei do menor esforço”.
A pretensão aqui não é de abrir um debate sobre benefícios e malefícios da automação da vida, aliás, sou bem adepto a tais facilidades e por vezes preciso me controlar. O que me preocupa, e, aí sim, a questão que proponho, é quando passamos a considerar as pessoas ou os processos de relação interpessoais, como algo automático, em que dispensamos os cuidados necessários que os relacionamentos entre pessoas exigem. Por mais que a tecnologia tenha avançado, continuamos a ser seres humanos, com fatores emocionais ou comportamentais, que nos individualizam e definem.
Cada um é cada um. Somos iguais em espécie, todavia, únicos como ser. Por mais que tentemos nos segmentar, associar, agrupar, por mais que nos aproximemos dos iguais, nossas respostas nunca serão satisfatórias a todos e todas. Reagimos a fatores e por fatores que por vezes até mesmo desconhecemos. Sim, somos diferentes, indiscutivelmente, entretanto, existe uma essência, uma consciência, algo em nós que nos faz perceber certas coisas pela mesma ótica de valores e justiça. Tão sutil que é difícil de ser descrito. Algo sentido pelo nosso corpo e possível de ser percebido em sua reação.
Desde que me lembro tenho interesse nas escrituras sagradas, mas principalmente nos textos que envolvem narrativas do próprio Cristo. Sou analítico por natureza e tenho necessidade de extrair cada detalhe, a procura de controvérsias e conflitos, que possam gerar certezas ou dúvidas sobre o meu próprio entendimento acerca da revelação de Deus. Não estou, com isso, tentando provar a existência ou não de Deus; ou se é verdade sua revelação; ou algo do tipo. Sinceramente, acredito que já passei desta fase. Quero apenas entender a essência do que Deus é, para poder me aperfeiçoar neste entendimento.
O texto narrado por João, sobre a mulher adúltera pega em flagrante (João 8:1 a 11), é sem dúvida um dos episódios mais conhecidos e debatidos pelos cristãos e estudiosos, com ensinamentos profundos acerca do homem, do pecado, da lei, da graça, da misericórdia e do caráter de Deus. Muitas são as lições aprendidas e com certeza impactou e transformou a visão do homem sobre o reino de Deus e sobre Sua justiça. Quem já teve a oportunidade de ler o Antigo e Novo Testamentos, encontrará nesta passagem uma síntese bem clara do desenvolvimento do processo de redenção.
A traição ou o adultério, é um dos pecados mais complexos do ponto de vista humano com relação às suas consequências, por envolver sentimentos e valores sempre de mais de uma pessoa. O apóstolo Paulo em sua 1ª Carta aos Coríntios, no capítulo 6, verso 18, assevera sobre o pecado de imoralidade, por ser este praticado no próprio corpo. Além do prazer que o ato sexual proporciona aos amantes, há de se considerar que os corpos de ambos, levando em conta suas memórias, ficam marcados. O ato em si já seria um problema em muitas culturas e julgamentos, todavia, gostaria de me ater ao que temos como consequência emocional, o quanto a traição afeta psicologicamente os envolvidos.
No diálogo entre Jesus e a mulher, é notório que ela não é nominada, por mais que se queira especular, na verdade, não há interesse aqui em julgar sua atitude ou emitir juízo condenatório, nem tão pouco ignorar o que ela fez, haja visto, que está bem explícito seu erro, inclusive para ela mesma. Ela não é usada como bode expiatório ou exemplo, e por isso sua identidade não é relevante, para que sua pessoa seja preservada em sua totalidade. O pecado achou condenação, entretanto, a misericórdia a alcança por completo. Seus sentimentos, sejam quais forem, que levaram à aquela atitude, foram resguardados.
À propósito, não há aqui qualquer questão de discriminação de gênero. A presença da figura da mulher nesta passagem, por não citar o homem, parece descriminar o sexo feminino, todavia, encontra razão inversa se observada a letra da lei. O texto legal de Levítico 20:10, condena explicitamente ambos, homem e mulher, adúlteros. Mas, como o texto da lei faz menção à ação empreendida pelo homem contra a mulher, a narrativa de João, elimina a exclusividade de culpa do homem mediante o consentimento da mulher, corroborando com o texto de Deuteronômio 22: 22 a 25, que exclui a culpa e a sentença sobre a mulher que se opor e for forçada ao ato. No episódio, a mulher não é vítima.
Uma atitude de infidelidade, no campo amoroso ou relacional, se fundamenta, ainda que por motivo fútil ou banal, em sentimentos que são alimentados por algum tempo. Estes sentimentos, se expostos e tratados adequadamente, poderiam gerar uma escolha diferente. No ponto em que Jesus a questiona sobre seus acusadores e não os encontra, ele a exime de seu julgamento condenatório, todavia, não a libera da arguição pessoal. A palavra de ordem “vai”, não a isenta das consequências de seu proceder. Ele não a chamou a estar com ele protegida das investidas daqueles que de alguma forma foram atingidos por sua escolha.
“Vai” em vez de “fica”, a condiciona a voltar no ponto em que caiu, a buscar reparação junto aos quais ela traiu. Cito o plural por consequência de que em uma ofensa várias pessoas são de alguma forma atingidas. Nos agarramos à condição de liberdade proporcionada pela misericórdia e perdão oferecidos por Deus, para nos eximir da responsabilidade de corrigir nossos erros junto àqueles que ofendemos. Nos escondemos em Deus para justificar nossa falta de ação em reparar os danos, assim, não somente ficamos emocionalmente doentes, como mantemos enfermas as pessoas que atingimos.
O foco de Deus sempre são as pessoas, o próximo. A escritura é acima de tudo um livro de relacionamento e o amor deve ser a base que direciona nossas escolhas, ele é o cumprimento da lei. O pecado causa dor, em si mesmo ou no outro, sua consequência é sempre a dor. O sofrimento tem origem no pecado. O direcionamento “não peques mais”, remete-a a não voltar a cometer o mesmo erro, mas vai além. Vai no sentido de estancar a sangria, de parar a dor causada no outro. Em reparar os danos, em pedir perdão e usar de misericórdia para arrancar o outro do sofrimento causado.
Dor não mais! É preciso compaixão para estando liberto da dor, do pecado, conduzir aqueles aos quais somos responsáveis por fragilizá-los, a encontrar o caminho de volta. O perdão cura e liberta. Precisamos oferecer o mesmo remédio que provamos. Se somos capazes de causar a dor, somos, em Cristo, capacitados a oferecer o tratamento, a curar a ferida. Não é automático, não mesmo. O medo e a vergonha tentam nos bloquear. Devemos escolher ir. Uma escolha nada fácil, exige esforço e, muitas vezes, até sacrifício. Jesus já fez a parte que lhe cabia. Arrepender é mudar de atitude, é agir, então vá.
M.Ce.Diniz
“Não contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz” . Mateus 12:19
Minha infância foi bem intensa, muito curta, mais intensa. Sou da geração que brincava na rua. Escola pela manhã e rua enquanto a mãe não gritasse seu nome, que ecoava, muitas vezes já ao anoitecer, no bairro todo. Era impossível não ouvir. Aí não dava nem para se despedir da molecada, era correr o máximo que podia para aparecer na frente dela antes que ela gritasse de novo. O argumento era simples e direto: se não voltar quando eu chamar, não deixo você brincar de novo na rua. Funcionava comigo e com as dezenas ou centenas de outras crianças que se divertiam por ali.
Era um tempo diferente se comparado com os dias atuais, mas extremamente prazeroso e saudoso. A gente tinha uma liberdade condicionada à obediência. Havia limite para tudo que se fazia e me lembro bem, o limite era sempre o outro: “você pode fazer o que quiser, desde que não machuque ninguém”. Isto acabava por gerar uma consciência de um cuidar do outro, pois, se alguém se machucasse, a notícia chegava rapidamente aos ouvidos das mães e aí muitas explicações teriam que ser dadas. Havia no ar uma atmosfera de companheirismo e muitos destes colegas de infância se tornaram amigos da vida toda.
A gente iniciava no trabalho bem jovem, no meu caso, por escolha minha, com nove anos de idade. Não se assuste, isso era bem comum. As famílias eram bem estruturadas, mas a maioria era pobre e como queríamos ter nosso próprio dinheiro para gastar em coisas pessoais, arranjávamos trabalho de meio período. Êta, como aquela grana era boa! Tenho ótimas lembranças daquele tempo, as pessoas com quem eu trabalhava sempre me trataram com muito carinho e respeito, era como um filho. Aprendi muito e penso que tudo isso ajudou na formação de quem sou.
Dentre as inúmeras brincadeiras da minha infância, o que mais gostava era jogar bola. Era assim que a gente chamava o futebol. Perto da minha casa tinha um campinho e lá a garotada se juntava todos os dias. Eu não era perna de pau, mas também não era tão habilidoso com a bola, como alguns colegas. Tentava me virar como podia, às vezes como centroavante e outras vezes como zagueiro. Por aí dá pra você ter uma ideia do esforço que eu tinha que fazer para ficar no time, isso até o dia em que ganhei uma bola de couro, claro, virei titular absoluto. O poder corrompe!
Já em minha fase adulta, fazia parte da turma da pelada na empresa em que trabalhava, e o esforço era o mesmo, muita vontade e nem tanta habilidade. Quando não conseguia resolver na bola, usava da força física para parar o oponente. Lembro sempre da fala do Aredes, um dos colegas, exageradamente habilidoso com a bola nos pés: “acabou o argumento?!”, dizia ele. Lógico que nunca admiti, mas ele me dava uma canseira daquelas. Esta frase ressoa em meus pensamentos sempre que vejo alguém, em qualquer situação, por falta de argumentos, tentar vencer na força física.
A internet deu voz a todos nós, podemos manifestar nossas opiniões acerca de tudo, muitos com distinta habilidade e outros nem tanto. É cada vez mais comum ver pessoas gritando, xingando, agredindo, humilhando, desmerecendo, criticando outras pessoas pelos canais digitais, não porque seus argumentos sejam melhores, pelo contrário, por total falta de argumento. Observo algumas pessoas, figuras bem populares, tentando se afirmarem nas redes com ofensas e palavrões, o interessante é que sempre se alteram nos momentos de maior insegurança, ou seja, naqueles assuntos em que não tem tanta certeza do que dizem.
A promessa que Deus fez sobre o seu escolhido, aquele que viria em Seu nome para promulgar o direito e redimir a humanidade (Isaías 42: 1), sobre o qual estaria repousado Seu espírito, traria a verdade como seu maior argumento. Sem imposição, sem contenda, nem gritaria, nem alarde. Jesus, embora arguido exaustivamente por aqueles que detinham a ideia de poder religioso, argumentou sempre baseado na verdade e apontou as ações realizadas por Ele, suas obras, como prova de seu ministério. Seus opositores destituídos de argumentos, passaram a acusar, criticar, xingar, agredir.
Todos nós buscamos um lugar de poder. Alguns menos ambiciosos, outros desejam a glória. Conquistar seu espaço, onde possa governar, por vezes significa subordinar outros ao seu comando, se impor sobre a vontade e liberdade daqueles que se submetem. Liberdade pressupõe livre escolha, fundamentada em ações reais, que nos convençam e convertam a caminhos favoráveis. Ascender ao poder ou o afã de manter este status, pode nos entorpecer e cegar, ocultando nossa falta de argumento, fazendo calar aqueles que têm a habilidade, pela força de nossa vaidade.
“... Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito…” (Zacarias 4: 6). O mover do Espírito de Deus é suave. Ele não quer se impor sobre você, o que Ele deseja é que você pense, mude sua mentalidade, conheça e analise Seus argumentos. Deus não se oculta em Seu poder para te vencer. O que Ele quer é te dar a vitória. É você quem ganha quando o ouve. A cura, a liberdade, a vida é o que você alcança quando entende e obedece a sua voz. Nossos referenciais de poder e autoridade quase sempre estão deturpados, o que nos leva a olhar para Deus por este reflexo, precisamos ressignificar essa relação.
Devemos ter cuidado com quem grita, usa de violência, se impõe sem argumento, pela força que pode ser demonstrada de diversas formas: física, intelectual, moral, mas nunca pela habilidade de conduzir à verdade, ao reconhecimento. Precisamos cuidar para não sermos nós o canal da imposição, utilizando da nossa posição de autoridade e poder para interromper a progressão de outros. A justiça, baseada na verdade e o amor, vínculo da perfeição, devem alicerçar nossas relações para atingirmos o nosso melhor e favorecer o crescimento de quem caminha conosco.
M.Ce.Diniz
“E os levitas carregaram a arca de Deus apoiando as varas da arca sobre os ombros, conforme Moisés tinha ordenado, de acordo com a palavra do Senhor”. 1 Crônicas 15:15
Fico sempre apreensivo quando ouço qualquer crítica ou comentário sobre o comportamento da Igreja de Cristo na atualidade. Não quero fazer juízo de valor ou tampouco desmerecer qualquer análise criteriosa que aponte de fato as correções necessárias para que alcancemos uma melhoria contínua na busca da excelência ou um ajuste no rumo das coisas, a considerar que qualquer empreendimento que envolva o ser humano, pela nossa própria falibilidade, intrínseca em nossa natureza, é suscetível de incorreções e descompassos, exigindo de quem está comprometido constante reexame.
Certamente, Jesus não nos comissionou à pregação das boas novas do evangelho baseado em nossa capacidade de discernir o certo e errado, aliás, desde a queda dos nossos primeiros pais, é notória a grande dificuldade que temos neste quesito. Todavia, a igreja se mobiliza e articula para alcançar públicos e notoriedade inimagináveis, atraindo a atenção do mundo para refletir e se posicionar acerca dos assuntos de fé. Se esforça por falar a linguagem do povo, compreensível, para construir uma relação de proximidade pessoal, numa visão diferente dos palácios de conhecimento eclesiais de um tempo não distante.
Este mover se identifica com o próprio Jesus, que sempre foi controverso quanto a postura religiosa de seu tempo, em que aqueles que foram chamados para servir, se mostravam afastados do povo, ilhados, como que privilegiados e superiores, pela condição da função exercida. Este isolamento está presente em toda a história da igreja, é inerente à vaidade humana e não é diferente nos dias atuais. Líderes que a princípio ou outrora iniciaram a sua caminhada de fato comprometidos com a pregação e prática do evangelho em sua essência, ao se verem num estado de comando, desviam-se para assegurar o poder obtido.
Somos parte de um todo. O ambiente nos desafia e envolve, é inevitável que as transformações do mundo ao nosso redor influencie as nossas decisões. Sem dúvida, não é somente dos líderes a culpa da escolha de se elevarem e buscarem mistificar, pois, vivenciamos uma geração moldada ao fantasioso e ilusório, produto do bombardeio hollywoodiano e da ficção que sobrepõe a realidade. Migramos de uma geração patrimonialista, baseada no concreto, real, para uma geração experiencialista, baseada no virtual e efêmero. É preciso apresentar algo novo, infinitamente, para ser atrativo.
O racional dá lugar ao imaginativo e o que vale é a “experienciação”. A criatividade humana parece não ter fim e nos impulsiona a querer cada vez mais e diferente. Não conseguimos enxergar o avanço tecnológico como algo externo ao ser humano e imaginamos que evoluímos em igual razão, nos tornando uma espécie melhor. A gênese não se alterou. Nossa estrutura física e mental é a mesma desde o princípio conhecido, permanecem nossas necessidades e fragilidades. Em meio a este contexto, embalados pela vaidade e pela pressão social do novo, do extraordinário, muitos se deixam envolver pelas armadilhas sutis do inimigo da igreja.
A este universo de efeitos especiais, soma-se os efeitos colaterais da revelação bíblica de falsos profetas, pastores e mestres, além da já mencionada ação do inimigo sagaz, pronto! E agora? Estou inserido em tudo isso. Como devo agir ou reagir? Esta reflexão, tendo por base a premissa apresentada, não pretende considerar em qual posição ou extrato você está na composição do corpo da Igreja de Cristo, não importa. A pregação do evangelho é simples e direta: arrependa-se, ou seja, converta-se, mude sua mente, seu modo de pensar. Faça você o autoexame. Se toque! Tem o jeito de Deus, para fazer as coisas de Deus.
Davi era um homem segundo o coração de Deus. Você pode criticá-lo por muitas coisas e com certeza facilmente as achará estampadas nas escrituras sagradas, mas há de reconhecer que ele tinha um coração quebrantado. Errou, sim, várias vezes, mas conservou sua humildade diante de Deus. A Arca da aliança representava a presença de Deus no meio da congregação e era importante para Davi, como rei, e para o povo resgatar a arca que estava em território inimigo. A presença de Deus era tão real na arca que os filisteus puderam vivenciar a manifestação da Sua glória, evidentemente, desastrosa para eles.
O relato que se dá em 1 Crônicas 13, é que Davi reuniu o povo, manifestou sua intenção em trazer a arca, buscou a concordância do povo e ainda condicionou a decisão à vontade de Deus. Tudo perfeito! O povo anuiu à proposta de Davi e com certeza, Deus seria o mais interessado em que a arca retornasse para Jerusalém. Daí pra frente só festa, celebração total: música, dança, alegria. Que culto! Tudo ia bem, até que, no lugar mais improvável, na hora que ninguém poderia esperar ou prever, as coisas saíram do controle e o que era pra ser benção se tornou em maldição.
Quem milita na obra de Deus sabe muito bem que não é fácil. Trabalhar com pessoas já é muito complicado, mas trabalhar na conversão de pessoas, que implica em mudança de mente e consequente mudança de hábitos, comportamentos e caráter, é mesmo desafiador. Convencer as pessoas que existe um jeito certo de se fazer as coisas é algo que exige muita aplicação, como um pai que precisa ensinar o filho o melhor caminho. Provavelmente, o caminho que eles percorreram era acidentado, imagino que não haviam estradas em boas condições, mas a caravana não parava, entretanto, numa eira, lugar plano, sem obstáculos, os bois caíram.
Morte, tristeza, contrariedade, medo e paralisia. O que havia de errado? Um homem de Deus, o povo de Deus, a arca de Deus, a melhor das intenções. O preço da inobservância pode ser caro e quando o fracasso é nosso professor as lições são duras. Deus tinha que forjar em Davi, o novo rei, líder de seu povo, um caráter de obediência e consequente dependência. O status de rei não deveria contaminar o coração de Davi e sua humildade foi provada, pois, o que os aguardava no futuro, o que se seguiu, foi um batalha contra os filisteus, inimigo, cuja vitória veio pela submissão e obediência restrita à estratégia definida por Deus.
“Nós não o tínhamos consultado sobre como proceder” - Crônicas 15:14 - Daquela tragédia e da experiência de vitória na batalha contra o inimigo, veio o entendimento que há um jeito certo para se lidar com tudo aquilo que representa Deus. Davi se humilha para reconhecer que somente os levitas poderiam conduzir a arca. Apesar de ser o líder, não era ungido para aquele fim. O povo de Israel conheceu, foi liberto e presenciou os grandes feitos de Deus no Egito, mas morreu no deserto por não conseguir mudar sua mentalidade e se tornar dependente de Deus. A história por vezes se repete conosco. Não julgue, só faça do jeito certo.
M.Ce.Diniz
“E disse Jesus: "Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens". Mateus 4:19
Estou temeroso, mas preciso revelar algo: sou mineiro, nascido em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Provavelmente, você que é ou não é de Minas, já está com aquele sorrisinho no canto da boca e aquele pensamento de mais um mineiro falando de praia. Deve estar imaginando um dia nublado ou mesmo chuvoso e o mineirinho lá em pé na areia ou debaixo da sombrinha curtindo o marão. Uai! O que fazer? A gente gosta de trem bão! Ninguém entende esta nossa fixação pelo mar, talvez por não termos a graça de possuir em nosso território esta preciosidade criada por Deus.
Tudo bem, vamos por hora aceitar as coisas como são, sabendo que, para os momentos difíceis, sempre tem Guarapari. E por falar em Guarapari, pra quem não conhece, excluindo os mineiros é claro, é uma cidade do litoral do estado do Espírito Santo, foi onde passei o réveillon, antes da pandemia, acompanhado de minha família e da família de minha irmã, na Praia do Morro, com uma vista espetacular. Naqueles dias tive algum tempo para observar as pessoas e contemplar a natureza, foram dias excelentes. Relembrando aqueles momentos, gostaria de compartilhar algo.
Em Guarapari, acontece de tudo, de tudo mesmo e vou explicar: A cidade tem aproximadamente 120 mil habitantes e no verão recebe mais de 1 milhão de turistas. É verdade e é também um caos. Estima-se que na virada de ano cerca de 1,3 milhão de pessoas estavam em Guarapari. Não tem estrutura que comporte. Todavia, embora algumas dificuldades, muito me impressionou a tranquilidade e passividade com que as pessoas conviveram naqueles dias. O ser humano é de fato alguém especial e faz toda a diferença, embora em meio a um aglomerado, as pessoas se mantinham solidárias.
Desde as primeiras horas do dia, até mesmo antes do nascer do sol, a praia começava a ser tomada por sombrinhas multicoloridas e em pouco tempo, de cima, de onde eu observava, não se podia ver mais a areia e, assim, permanecia até ao anoitecer. Os mais persistentes ainda adentravam a noite. Alguns se aventuravam no mar à dentro: motos aquáticas, barcos, lanchas, escunas, boias, pranchas, bananas flutuantes, caiaques e uma infinidade de outras possibilidades de se vencer a força e grandeza do mar. Gosto de praia ampla, extensa, de mar aberto.
Sempre que vou ao litoral, as pessoas me convidam para adentrar no mar, enfrentar o poder das águas. Percebo que o barato está em dominar este elemento. A nossa imaginação se deslumbra ao ver retratado nas telas os homens que se aventuraram no mar e puderam sobreviver para contar a história. A grande atração está lá no desconhecido, no desafiador. Investimos tempo e recursos para desfrutar do privilégio, poucos o tem, de surfar sobre as ondas. Dominar o mar é sinônimo de superação, de grandeza. Quem está lá conquistou um lugar longe da multidão e pode ver os milhares que nem ousam tentar.
Em seu primeiro contato com aqueles que seriam seus discípulos, Jesus, tem uma atitude reversa, embora eles fossem peritos e habilidosos no domínio dos mares, Ele os chama a abandonarem seus barcos e virem para a praia, lugar onde está a multidão. Esta característica está sempre presente em Jesus, se misturar. Ele é encontrado em meio ao povo, sim, junto àqueles que estão na areia, a beira-mar. Por vezes queremos nos aproximar de Deus e pensamos que para isso precisamos nos afastar dos homens. Nos tornamos exclusivistas e até nos julgamos superiores.
A proposta do evangelho nunca foi de se isolar, mas, ao contrário, é de se envolver. A atitude do próprio Deus de deixar a sua glória celestial e se encarnar como homem é a prova mais evidente de seu compromisso conosco. Ele de fato se envolveu. Ele se importa com você e está disposto a se relacionar intimamente. Seus medos, seus temores, suas limitações, não são impedimentos para que Ele lhe conduza na travessia deste mar bravio. Se você está na praia este é o lugar onde Ele está, perto de você. É aí, onde tudo acontece, na sua vida, que Ele está presente e quer se manifestar.
Olhe para o lado, veja se não há alguém que Deus colocou aí para se relacionar com você, para te ajudar ou ser ajudado. Não se isole, por mais que pareça atrativo estar longe das pessoas e se sinta seguro à distância, lembre-se que é na solidão do mar que estão os verdadeiros perigos. Jesus demonstrou a seus discípulos que tem total domínio dos mares, fez aparecer os peixes, acalmou a tormenta, andou sobre as águas, entretanto, Ele não nos chamou para sermos poderosos, este atributo Lhe pertence, Ele nos chamou para sermos sal da terra, o mesmo sal que é encontrado misturado nas areias da praia.
M.Ce.Diniz
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